sábado, 26 de dezembro de 2009

Mel

Ficava esta menina a olhar na janela
seu pássaro encantando.
Desejava ser amada,
desejava ser tocada
desejava todos os beijos
sonhados e inimagináveis.

Desejava seu beija-flor
que sempre voltava para deixar seu néctar.
Acreditava que seus beijos eram doces e enfeitiçavam seu amado.
Seu mel era derramado pelo corpo e não somente deixado na sua boca.


Grande doçura, extrema suavidade.
Era o que ela imaginava doar ao seu amado!


Ah! Gostava muito de ser chamada de flor.

domingo, 20 de setembro de 2009

Tango

Eu já havia aprendido a arte da guerra. Eu já sabia lidar com a dor. Eu já sabia trilhar o caminho da alegria. Eu já havia entendido que a vida é este fluir incessante que pulsa aqui dentro de mim e que move tudo. Eu já tinha o dom e a arte de salvar almas perdidas, como quem faz vicejar de um monturo um inesperado canteiro de flores. Eu não tinha mais pudor em reconhecer minha beleza e em expô-la nas ruas ou dentro de casa. Eu já sabia dançar e rodopiar ao som dos pássaros, sob o sol da manhã. Tudo isso eu já sabia quando te encontrei. E quando te vi tão perto, eu quis, considerando a acuidade do momento, deixar em ti as minhas marcas. Mas tu foste, aos poucos, revelando teu próprio arsenal. Então, eu vi que dessa batalha eu também não sairia incólume.

Foi no meu território que nos encontramos dessa vez. Traduzir-me foi para ti assunto de primeira ordem, tão grave e importante quanto aprender a desbravar a metrópole labiríntica em que eu te recebi. Para isso, não te custou ler livros de psicanálise e nem estudar a língua do meu país, numa preparação de quem pretende desvendar códigos de guerra. E, assim, foste penetrando meu mundo de dimensões continentais, costa e selva demarcando com tuas bandeiras...

Eu guardava para ti um sertão. Rios perdidos dentro de matas inóspitas com que eu queria burlar a segurança de teus cálculos precisos. Foi só com belezas que eu quis te seduzir. Em recompensa à tua bravura nos dias em que enfrentaste minha cidade fria de pedra, dei-te o langor de Copacabana e um mar de fantasias. Mas tu, meu lindo anjo estrangeiro, deste ao meu Carnaval a técnica e o rigor de um tango. E eu, que pensava saber tudo o que precisava para viver e ser feliz; eu vi que agora tinha de aprender o ritmo do teu passo.

Tu e eu: ambos versados em matéria de liberdade... Somente um tango poderia nos enlaçar sem deixar que perdêssemos na dança nossa altivez e dignidade. Olhos nos olhos: um querendo imprimir no outro palavras, histórias e imagens do seu próprio universo. Como se agora, maduros, pudéssemos proporcionar um ao outro tudo o que conquistamos ao longo de nossas vidas. Como se, em oferenda numa grande mesa, despejássemos todas essas coisas e disséssemos: “Eis o que sou!” E assim também, nos despojando de tudo isso, deixamos para trás o passado, e fomos desenhando no ar e no chão apenas a paixão e a alegria de estarmos juntos e dentro do presente. O futuro sendo esboçado a cada passo pelo movimento daquilo que eu te ensinei a chamar de “saudade”...

(Esse texto é um presente que ganhei de uma amiga.)

domingo, 13 de setembro de 2009

Um mar de saudades

Uma lembrança nostálgica de momentos marcantes e alguns até mesmo desconcertantes...
Será preciso viajar um pouco no mundo das imagens e fantasias para entender um pouco a convivência entre a emoção e a razão. Parece simples. Mas, como explicar o sentido da palavra “saudade”, tão carregada de afetividade, para um homem todo lógico e racional que pertence a outra cultura?
Foi necessário solicitar um tempo de convivência para que pudéssemos construir uma relação com trocas de aprendizagem e com registros de acontecimentos, através de fotos, conversas, olhares, suspiros e empolgações e porque não dizer até mesmo de alguns deslizes. Esse processo é importante para que, posteriormente, possamos despertar no outro alguma nostalgia pela ausência do objeto de desejo tão querido, ou mesmo dos lugares que percorremos juntos. Assim como disse Aristóteles, que os amigos precisam de tempo e de intimidade, diz também um ditado que duas pessoas não podem se conhecer sem que tenham comido juntos a quantidade necessária de sal.
Foram vinte dias percorrendo praias de Sampa ao Rio. Museus, bares, restaurantes, espetáculos, caminhadas, bate-papos, bilhetes, para facilitar o diálogo. Cada detalhe procurando ser sentido no máximo de sua intensidade. Cabe lembrar que um tem personalidade totalmente dionisíaca e o outro, apolínea. Um com uma inteligência emocional e social à flor da pele; outro com inteligência lógica espacial. O conflito se estabeleceu e a sensibilidade, flexibilidade e a resiliência para resolvê-los precisou estar presente, pois o foco era construir uma história que deixasse aquilo que é somente nosso. Ou seja, SAUDADES...
De uma forma dialética, dinâmica, viva, colorida e com muito movimento, fomos tecendo a cada dia um pedaço desta história. Ah, nada de repetição, pois os hiperativos não suportam rotinas, embora precisem de certa disciplina. A tal disciplina que transborda no lado racional. Assim, inovação e observação eram de fundamental importância para a harmonia e o equilíbrio.
Muitas vezes, colocar em prática a tão falada assertividade e o respeito à individualidade acabava sendo uma tarefa bastante difícil. Mas, como devem estar lembrados, a intenção era ser feliz e deixar saudades. Então, tal habilidade teve de ser lapidada como uma jóia rara.
Em alguns momentos, esses sentimentos se misturavam na tentativa de agradar e adivinhar o desejo do outro, pois havia a crença de que dessa forma intensificava-se e acentuava-se a marca que se queria deixar. Erros de cálculo... Pessoas emocionalmente saudáveis agradam o outro sem deixar de agradar também a si mesmas. Esta é famosa auto-estima, tão comentada pelos colegas psicólogos.
Agora, quando vejo os olhos daquela pessoal tão especial e deixo meu coração trazer à tona todas estas emoções, quando procuro me transportar através das lembranças e das fotos para o momento da despedida, recordo a manifestação de agradecimento pelo acolhimento e o convite para as próximas férias. Especialmente pela vontade de transformação de ambos, podemos, com certeza, afirmar que saudade é isto: um desejo oculto que alimenta a nossa alma e que pode ser acionada na caverna do nosso coração, pela magia da imaginação e da paixão que acaba sendo também tão particularmente nossa, minha ou sua. Pergunto a você, leitor: qual a sua definição de saudade? Faça sua construção e deixe vir à tona seus conteúdos mais secretos, e se permita manifestá-lo para a pessoa que você acha ser merecedora. Acredite: isso é muito bom para a sua vida mental, espiritual e emocional.